sábado, 25 de abril de 2009

A Igreja como Negócio.





Desde a última quarta-feira, o telejornal SBT Brasil está apresentando uma série de reportagens intitulada: “Fé sob medida”. A matéria foi aberta com a seguinte premissa (não inferida, mas afirmada pelo apresentador): “Uma das atividades mais lucrativas do país nos últimos anos é abrir uma igreja”. Com a proliferação de “ministérios” que surgem aos borbotões, este é um dos assuntos mais urgentes para se debater. Mesmo porque, do cristianismo, o segmento evangélico é o que mais dá margem para grandes “furos jornalísticos”. Se se quiser delimitar ainda mais o fenômeno a ser pesquisado, é preciso afirmar que dentre os evangélicos, o neopentecostalismo — mesmo não sendo o único, é bom que se diga — é o grande campeão e responsável pela suspeição que paira sobre o segmento (aliás, todas as igrejas mostradas até ontem, sem exceção, eram neopentecostais).




Não sou a palmatória do mundo para julgar a “boa vontade” ou a “boa intenção” com que as pessoas buscam estes grupos religiosos (quanto aos líderes acredito que a motivação não seja nada ingênua), mas diante de meu inevitável envolvimento (ora, sou cristão e pastor pentecostal), é meu direito — e dever — refletir sobre o assunto e apresentar algumas ponderações.

Generalização e influência no imaginário coletivo

Como não acredito na hipótese positivista da neutralidade ideológica (até mesmo de minha parte), e ciente da verdade que disse Millôr Fernandes ─ “A opinião pública é o que a mídia publica” ─, arrisco-me a fazer uma leitura acerca das reais intenções da série de reportagens.




Primeiramente, como parte do movimento evangélico (por sua origem histórica, gosto mais da expressão “evangelical”, mas como é muito pouco difundida, vou utilizar o título mais comum), teço algumas críticas ao nosso sistema, mas não sofro da síndrome de Elias — acreditando que sou o único que não se conforma com o quadro atual do segmento evangélico —, achando-me “guardião solitário” das verdades escriturísticas, pois sei que existem muito mais que sete mil anônimos que não se conformam com o evangelho da acomodação ou das facilidades que hoje se prega e, são estes que fazem, de fato, a obra de Deus. Acontece que as críticas que faço (é bom lembrar que “crítica” não deve ser confundida com a postura ranzinza de alguns ou com o mau costume de difamar e/ou falar mal de outros), têm a intenção de fazer-me repensar o cristianismo e descobrir meios de manter-me na direção correta. A série de reportagens também identifica as incoerências e ambigüidades dos evangélicos, mas não posso ser tão incauto e cair no simplismo de que o seu objetivo seja bom. Em outras palavras, o propósito da matéria não se confunde com o meu. Muitos caem na besteira de acreditar que o cristianismo está tão degradante que até mesmo a mídia está sendo “usada por Deus” para bradar contra ele. Na verdade, reportagens deste tipo são um verdadeiro “cavalo de Tróia” que, valendo-se da vulnerabilidade do movimento evangélico, valem-se desses desvios para impingir sobre todo líder cristão a pecha de “aproveitador” da boa fé das pessoas.




Em segundo lugar, é bom não esquecer que toda espécie de generalização é estúpida. O que dizer de pastores que se desdobram e dividem o seu tempo entre liderar uma igreja no período noturno e finais de semana, tendo que trabalhar durante o dia para sustentar sua família? Sem ganhar um único centavo dedicam suas vidas à pregação do evangelho. Mesmo sendo ministros leigos, como bons comissionados, insistem em realizar o trabalho evangelístico, proporcionando uma série de benefícios que refletem-se até mesmo na desintoxicação da sociedade. A reportagem não se propõe a mostrar exemplos de altruísmo, mas procura influenciar a opinião pública, nivelando por baixo, todos os evangélicos.




Em terceiro lugar, é bom não esquecer que eles jamais procuram um líder que saiba realmente responder pelo movimento evangélico, mas indagam pessoas que dão respostas rasas e sem nenhuma profundidade teológica. Um exemplo foi quando o repórter indagou um líder, questionando o motivo da abertura de tantas igrejas. O pastor, de maneira acrítica, respondeu: “O crescimento do bem tende a ser proporcional ao aumento do mal”. Estes são os que acreditam que existem dois deuses (um do bem e outro do mal) competindo entre si. No entanto, todos sabemos que o Diabo é um anjo caído, uma criatura de Deus, não podendo sequer pensar em competir com o Eterno. Sem falar também que a simples abertura de igrejas não significa, em última análise, melhoramento social e avanço do bem.




Em quarto e último lugar, os repórteres sempre buscam o parecer de um sociólogo, psicólogo, ou qualquer outro cético (isto não significa neutro, mas inclinado a criticar tudo o que diz respeito a religião), no intuito de execrar o cristianismo. Se acaso eles procurassem um líder cristão sério, ele concordaria que muitas manifestações religiosas nada têm de Deus; que a religião sempre foi um dos expedientes utilizado como forma de dominação (e acerca deste tipo de "religião" concordo com a definição de Marx); que a função das igrejas não é proporcionar uma vida nababesca aos seus líderes em detrimento dos fiéis que doam tudo que possuem esperando receber de Deus a mesma condição social; que as pessoas não podem ser vistas como “nichos” mercadológicos ou um mercado alternativo oportunizando a abertura de igrejas ao sabor de determinados grupos sociais simplesmente para atender a “demanda”; e finalmente, que neste caso, em particular, não se pode avaliar o todo por uma parte ou vice-versa. Porque isto é estupidez, desonestidade, absurdo e jornalismo antiético.
http://marketingparaescoladominical.blogspot.com/2009/04/igreja-como-negocio.html

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